A Segunda Mostra Nacional de
Práticas em Psicologia, que aconteceu em São Paulo no mês de setembro, dedicou
boa parte de seu tempo a discutir o papel do negro na psicologia e as
idiossincrasias em torno de seu atendimento. Palestrante do seminário, a cineasta
carioca e ativista do movimento em defesa do orgulho negro, Janaína Oliveira,
fez uma polêmica declaração. Para ela, o racismo historicamente imposto à
população negra no Brasil é a principal causa do sofrimento psíquico, que afeta
muito mais os negros do que os brancos.
O objetivo da palestra de Janaína
foi sensibilizar os psicólogos para um atendimento mais adequado a essa
população, que, aos poucos, passa a ter acesso a esses profissionais que cada
vez mais atuam em serviços públicos de saúde mental, como os Centros de
Atendimento Psicossocial (CAPs).
“O Brasil é extremamente racista, os
negros sofrem todo tipo de racismo, sendo desfavorecidos no acesso à saúde, à
educação, ao mercado de trabalho”, destacou Janaína. “Quando não consegue entrar
na faculdade, por exemplo, tende a se achar incapaz de passar num vestibular.
Do mesmo modo, se sente culpado por não obter um bom emprego, quando na verdade
é o racismo que cria condições desiguais de acesso.”
Segundo a cineasta, essa cobrança
por melhores resultados num contexto desfavorável, de racismo e discriminação,
aumenta a angústia e sofrimento psíquico dos negros. “Os psicólogos devem ser
sensibilizados para a questão e ser capacitados para atender a essa população
de maneira mais apropriada”, afirmou.
A Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra, promulgada em 2008, é referência para políticas
públicas do setor. Segundo o documento, os negros têm o direito ao atendimento
psicológico permanente do nascimento ao envelhecimento. “Muito embora os
movimentos negros comecem a fortalecer a luta por esses direitos, eles ainda
nem começaram a sair do papel”. No evento, Janaína recebeu o prêmio Paulo
Freire, que reconhece o trabalho de pessoas que se dedicam à defesa dos
direitos humanos.
O evento celebrou também os 50 anos
da regulamentação da psicologia como profissão no Brasil.
FONTE: REVISTA AFRO
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