sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Sobre a DEPRESSÃO..,












 O Depressivo olha à sua volta e lista tudo o que ele tem: família, amigos, trabalho e lazer. Não vê sentido em nada. Não sente nenhuma motivação em dar seguimento às atividades de sua rotina. Prefere aquele pontinho de luz na escuridão do quarto. Pensa no que lhe daria prazer e não encontra nada. É um estranho no mundo. Não vê nenhum sentido nos lugares que poderia visitar, nas coisas que poderia comprar e nos restaurantes que poderia frequentar. Não sente o menor impulso para passeios e coisas. É desafectado de tudo. Só consegue desenvolver alguma atividade de forma robotizada ou sob o efeito de muitos antidepressivos. A depressão é uma síndrome da falta de prazer na vida. É uma psicopatologia da alegria de viver. O olhar desesperado do depressivo envolve uma dificuldade crônica em estabelecer laços com o mundo. Ele não sabe mais a que veio. Não sabemos exatamente qual é a causa desta baixa da vontade de viver. O que sabemos é que as mudanças sociais das últimas décadas, tendem a tornar as pessoas ainda mais vulneráveis à depressão. A alegria de viver passa pela disponibilidade das pessoas em amar de forma gratuita, sem a pressão das coisas materiais e do tempo. Isto hoje é coisa rara. Não creio que a felicidade possa ser conquistada com a ingestão de comprimidos produzidos artificialmente. Teremos que nos adaptar aos novos tempos e sem a alegria intensa, própria de nós brasileiros. Em pouco tempo veremos sentido em passar a maior parte do tempo, em frente à TV, consumindo pacotes de batata frita com aqueles copões enormes de refrigerante.



 FONTE: Evaristo Magalhães – Psicanalista

sábado, 19 de julho de 2014

A MORTE COMO CONSELHEIRA: Rubem Alves














Lembra-te, antes que cheguem os 
maus dias, e se rompa o fio de prata, 
e se despedace o COPO de ouro, e 
se quebre o cântaro junto à fonte, 
e se desfaça a roda junto ao poço…
Eclesiastes 12, 1-8

A vida está cheia de rituais para exorcizar a Morte. Agora, quando escrevo, dia 3 de janeiro de 1991, acabamos de passar por dois deles. É claro que não lhes damos este nome, pois o seu sucesso depende de que o Nome Terrível não seja ouvido. Para isto se faz uma barulheira enorme de sinos, fogos de artifício, danças, risos, muita comida, e alegria engarrafada… E tudo isso só para que a voz Dela não seja ouvida… Natal não é isto? Não existe uma tristeza solta no ar? O esforço desesperado de repetir um passado, fazer com que ele aconteça de novo? Encontrei, certa vez, numa loja nos Estados Unidos, um pacotinho de ervas e temperos num saquinho de plástico com o nome: “perfumes de Natal”. Tem de ser aqueles cheiros antigos, de infância. As músicas novas não servem, é preciso que as mesmas dos outros tempos sejam cantadas de novo. E que haja o mesmo rebuliço, os mesmos bolos, as mesmas frutas. Prepara-se a repetição do passado, para se ter a ilusão de que o tempo não passou. Melhor o incômodo da correria e da ressaca do que a dor de ouvir o que Ela está silenciosamente dizendo: “É, mas o tempo passou. Não pode ser recuperado. Você está passando…” Pensar dói muito. O Natal dói muito... E saímos da depressão da perda por meio de um outro ritual. Tolice imaginar que o tempo passou. Que nada. É um novo tempo que vem. Há muito tempo à espera. “Feliz Ano Novo!” E, no entanto, é tudo mentira.

Certo está o poeta:

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz o que nem sequer sonhei; o que só agora vejo que deveria ter feito, o que só agora claramente vejo que deveria ter sido isto é que é morto para além de todos os Deuses…

Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei.

Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?

Esses, sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.

Enterro-os no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos… (Álvaro de Campos, Poesias, “Na noite terrível…”)

Não, não, a Morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver.

O que ela diz? Coisas assim:

“Bonito o crepúsculo, não? Veja as cores, como são lindas e efêmeras… Não se repetirão jamais. E não há formas de segura-las. Inútil tirar uma foto. A foto será sempre a memória de algo que deixou de ser… E esta tristeza que a beleza dá? Talvez porque você seja como o crepúsculo…. É preciso viver o instante. Não é possível colocar a vida numa caderneta de poupança…”

“Você sabe que horas são? Está ficando frio… E as cores do outono? Parece que o inverno está chegando…”

“O que é que você está esperando? Como se a vida ainda não tivesse começado… Como se você estivesse à espera de algum evento que vai marcar o início real da sua vida: formar, casar, criar os filhos, separar da mulher ou do marido, descobrir o verdadeiro amor, ficar rico, aposentar… Como se os seus instantes presentes fossem provisórios, preparatórios. Mas eles são a única coisa que existe…”

“E esta música que você está dançando? É de sua autoria? Ou é um Outro que toca, e você dança? Quem é este Outro? Lembre-se do que disse o poeta ‘Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim’. Mas, se você é isto, o intervalo, você já morreu… Acorde! Ressuscite!”

A branda fala da morte não nos aterroriza por nos falar da Morte. Ela nos aterroriza por nos falar da Vida. Na verdade, a Morte nunca fala sobre si mesma. Ela sempre nos fala sobre aquilo que estamos fazendo com a própria Vida, as perdas, os sonhos que não sonhamos, os riscos que não tomamos (por medo), os suicídios lentos que perpetramos.

“Lembra-te, antes que se rompa o fio de prata e se despedace o corpo de outro”, e que seja tarde demais.

Uma das canções mais belas do Chico eu nunca ouvi tocada no rádio. Tenho perguntado, e pouca gente conhece. Desconfio. É porque ela é a mansa sabedoria da Morte, que ninguém quer ouvir. Diz assim: “O velho sem conselhos, de joelhos, de partida, carrega com certeza todo o peso de sua vida. Então eu lhe pergunto sobre o amor… A vida inteira, diz que se guardou do carnaval, da brincadeira que ele não brincou… E agora, velho, o que é que eu digo ao povo? O que é que tem de novo pra deixar? Nada. Só a caminhada, longa, pra nenhum lugar… O velho, de partida, deixa a vida sem saudades, sem dívida, sem saldo, sem rival ou amizade. Então eu lhe pergunto pelo amor… Ele me diz que sempre se escondeu não se comprometeu, nem nunca se entregou… E agora, velho, que é que eu digo ao povo? O que é que tem de novo pra deixar? Nada. Eu vejo a triste estrada aonde um dia eu vou parar. O velho vai-se agora, vai-se embora sem bagagem. Não sabe pra que veio, foi passeio, foi PASSAGEM. Então eu lhe pergunto pelo amor… Ele me é franco. Mostra um verso manco dum caderno em branco que já se fechou. E agora, velho, o que é que eu digo ao povo? O que é que tem de novo pra deixar? Não. Foi tudo escrito em vão… E eu lhe peço perdão mas não vou lastimar”… Parece até que o Chico e o Jorge Luis Borges entraram de acordo, pois este escreveu coisa muito parecida: “Instantes: Se eu puder viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser perfeito. Relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido. Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério. Seria até menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria para lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos sopa. Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. Eu fui uma desta pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto de sua vida. Eu era uma destas pessoas que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas. Se voltasse a viver, viajaria mais leve. Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo…”

É! Embora a gente não saiba, a Morte fala com a voz do poeta. Porque é nele que as duas, a Vida e a Morte encontram-se reconciliadas, conversam uma com a outra, e desta conversa surge a Beleza. Agora, o que a Beleza não suporta é o falatório, a correria… Ela nos convida a contemplar a nossa própria verdade. E o que ela nos diz é simplesmente isto: “Veja a vida. Não há tempo pra perder. É preciso viver agora! Não se pode deixar o amor para depois. CARPE DIEM!”

Foi esta a primeira lição do professor de literatura do filme A sociedade dos poetas mortos. CARPE DIEM: agarre o dia! E o efeito de tal revelação poética, nascida da reconciliação da Vida com a Morte, é uma incontrolável explosão de liberdade. É só isto que nos dá coragem para arrebentar a mortalha com que os desejos dos outros nos enrolam e mumificam.

Tive um amigo, Hans Hoekendijk, um holandês que esteve prisioneiro num campo de concentração alemão. Contou-me de sua experiência com a morte. A guerra já chegava ao fim, e os prisioneiros acompanhavam num rádio clandestino o avanço de tropas aliadas e já faziam o cálculo dos dias que os separavam da liberdade. Até que o comandante da prisão reuniu a todos no pátio e informou que, antes da libertação, todos seriam enforcados. “Foi um grito de lamentação e horror… seguido da mais extraordinária experiência de liberdade que jamais tive em minha vida”, ele disse. “Se eu morrer dentro de dois dias, então nada mais importa. Não há sentido em me guardar, não há sentido em ser prudente. Não preciso pretender ser outra coisa do que sou. Posso viver a minha verdade, pois nada pode me acontecer. Não preciso de máscaras. Tenho a permissão para a honestidade total. Posso ir ao guarda nazista, que sempre me aterrorizou, e dizer a ele tudo o que sinto e penso…

Que é que ele pode me fazer? Posso ir até aquela mulher que sempre amei, mas de quem nunca me aproximei (afinal, ela estava com o marido, e naqueles tempos isto era levado em consideração…) e pedir licença ao marido para confessar os sentimentos… Posso dizer tudo o que sinto, mas que nunca me atrevi a dizer, por medo”. E me contou dessa experiência fantástica de liberdade e verdade que se tem quando se está pendurado sobre o abismo. A Morte tem o poder de colocar todas as coisas em seus devidos lugares. Longe do seu olhar, somos prisioneiros do olhar dos outros, e caímos na armadilha de seus desejos. Deixamos de ser o que somos para sermos o que eles desejam que sejamos. Diante da Morte, tudo se torna repentinamente puro. Não há lugar pra mentiras. E a gente se defronta então, com a Verdade, aquilo que realmente importa. Para ter acesso a nossa verdade, para ouvir de novo a voz do desejo mais profundo, é preciso tornar-se um discípulo da Morte. Pois ela nos dá lições de vida, se acolhemos como amiga. ”A morte é nossa eterna companheira” – dizia Don Juan, o bruxo. “Ela se encontra sempre a nossa esquerda, ao alcance do braço”. Ela nos olha sempre até o dia que nos toca. Como é possível alguém se sentir importante, sabendo que a Morte o comtempla? O que você deve fazer ao se sentir impaciente com alguma coisa, é voltar-se para sua esquerda e pedir que a sua Morte o aconselhe. Estamos cheios de lixo! É a Morte é a única conselheira que temos. Sempre que você sentir, como acontece sempre, que tudo está indo de mal a pior, e que você se encontra a ponto de aniquilado, volte-se para sua Morte e lhe pergunte se isso é verdade. Sua Morte lhe dirá que você está errado, que nada realmente importa, fora do seu toque. Ela lhe dirá “ainda não te toquei”. Alguém tem que mudar e depressa. Alguém tem que aprender que a Morte é caçadora e que ela se encontra a nossa esquerda. Alguém tem que pedir o conselho da Morte e abandonar a maldita mesquinharia que pertence aos homens que vivem as suas vidas como se a Morte nunca fosse bater no seu ombro.

Houve um tempo em que o nosso poder perante a morte era muito pequeno. E por isso os homens e mulheres dedicavam-se a ouvir a sua voz e podiam tornar-se sábios na arte de viver. Hoje, o nosso poder aumentou, a Morte foi definida como inimiga a ser derrotada, fomos possuídos pela fantasia onipotente de que nos livramos de seu toque. Com isso, nós nos tornamos surdos às lições que ela pode nos ensinar. E nos encontramos diante do perigo de que, quanto mais poderosos formos diante ela (inutilmente, porque só podemos adiar.) mais tolos nos tornamos na arte de viver. E, quando isso acontece, Morte que podia ser conselheira sábia, transforma-se em inimiga que nos devora por detrás. Acho que para recuperarmos um pouco a sabedoria de viver seria preciso que nos tornássemos discípulos e não inimigos da Morte. Mas para isso seria preciso abrir espaço em nossas vidas para ouvir a sua voz. Seria preciso que voltássemos a ouvir os poetas...

Referência
ALVES, Rubem. A morte como conselheira. In: CASSORLA, Roosevelt M. S. (Coord). Da morte. Campinas: Papirus, 1991.

FONTE: Espaço cuidar

quinta-feira, 26 de junho de 2014

'Dacnomania - Entenda porque o Suárez mordeu o italiano'







Colunista explica o que aconteceu durante a partida pela Copa do Mundo.

* Por Jordan Campos


Hoje, na Copa do Mundo todos estão comentando um lance curioso: o atacante uruguaio Luis Suárez mordeu seu adversário italiano em pleno momento de jogo. Logo após o ocorrido veio à tona a informação de que este é o terceiro episódio público em que o atacante faz a mesma coisa. Muitos estão o chamando de louco, desequilibrado, doente mental – mas que tal parar um pouco e tentar entender o que está por detrás deste sintoma. Sim – isso é um sintoma de um ou alguns conflitos não assimilados, estes conflitos são a “doença”, e o ato de morder, apenas o sintoma desta “doença-conflito”.
Suárez me fez lembrar a clássica definição da síndrome de morder a si ou a outros. Isto se chama Dacnomania. Com total certeza o Suárez faz isso desde criança sempre quando se sente sob alta pressão e stress, e a mordida é a forma encontrada por ele para drenar esta adrenergia em seu sangue e cérebro. È uma forma de o corpo fazer interromper o fluxo de adrenalina que pode causar prejuízo ao corpo. Assim, quando ele morde, passa a liberar acetilcolina, que por sua vez, cancela a ação maléfica do stress causado pela adrenalina. E pasmem – não é racional esta atitude dele. No momento da adrenergia (muita adrenalina circulante), o atleta fez isso sem pensar nas consequências. A polêmica aqui então é: se ele não sabia o que fazia naqueles segundos, ele deve ser punido?

Vou entrar num assunto aqui para ser mais claro. Temos em nosso cérebro dois tipos diferentes de funcionamento e depender do tipo de situação que estamos enfrentando e como nossas crenças traduzem isso. Temos assim, para ser didático, dois cérebros. O cérebro analítico e o cérebro reativo. O primeiro analisa, faz contas, pondera e então toma a decisão – digamos que indivíduos normais estejam nele quase que 98% de um dia. O outro cérebro, o reativo – é totalmente focado na resposta do que chamamos de sistema reptliano, sim nós temos uma parte do cérebro idêntica a dos répteis, e como eles, apenas reagimos. O cérebro reativo é chamado a funcionar quando estamos em risco, ou quando nossa CRENÇA pensa estar sob risco. Ele então anula a ação do analítico e entra em sistema de defesa realizando duas funções básicas – atacar ou fugir. Apenas estas duas opções o cérebro reativo pode decidir. E no momento em que o jogo estava e sob alta adrenalina, de repente o sistema operacional do Suárez entrou no modo “reativo”, e ele mordeu- atacou, pois na sua crença não poderia fugir (sair do campo, pedir para ser substituído).

Agora você deve me perguntar: “Ok, Jordan – mas porque ele mordeu? – Poderia ele ter tido outra reação? Chutar, xingar, se bater?” – “Por que escolheu MORDER?”

A “escolha” de morder não foi feita por ele, e sim pelo seu sistema reativo. A depender da criação e do modo de desenvolvimento de todos nós, do que nos sobrou ou faltou, podemos ter diferentes e bizarros modos de reatividade. Tal qual a criança que é abusada sexualmente pode responder em seu cérebro reativo com uma relação de dor, punição e humilhação para ter prazer no sexo... Eu gastaria horas aqui fazendo possíveis relações que explicam outras reações. O morder me faz lembrar das fases de desenvolvimento que Freud classificou. Freud usa o termo fixação para descrever o que ocorre quando uma pessoa não progride normalmente de uma fase para outra, mas permanece muito envolvida numa fase particular. Uma pessoa fixada numa determinada fase preferirá satisfazer suas necessidades de forma mais simples ou infantil, ao invés dos modos mais adultos que resultariam de um desenvolvimento normal. Uma das fases de aprendizado e desenvolvimento é a chamada Fase Oral.

Entenda: Desde o nascimento, necessidade e gratificação estão ambas concentradas predominantemente em volta dos lábios, língua e, um pouco mais tarde, nos dentes. A pulsão básica do bebê não é social ou interpessoal, é apenas receber alimento para atenuar as tensões de fome e sede. Enquanto é alimentada, a criança é também confortada, aninhada, acalentada e acariciada. No início, ela associa prazer e redução da tensão ao processo de alimentação. A boca é a primeira área do corpo que o bebê pode controlar; a maior parte da energia reativa disponível é direcionada ou focalizada nesta área. Conforme a criança cresce, outras áreas do corpo desenvolvem-se e tornam-se importantes regiões de gratificação. Entretanto, alguma energia é permanentemente fixada nos meios de gratificação oral. Em adultos, existem muitos hábitos orais bem desenvolvidos e um interesse contínuo em manter prazeres orais. Comer, chupar, morder, lamber ou beijar com estalo, são expressões físicas destes interesses. Pessoas que mordicam constantemente, fumantes e os que costumam comer demais podem ser pessoas parcialmente fixadas na fase oral, pessoas cuja maturação psicológica pode não ter se completado, como é o caso do Luiz Suárez. Ele deve ter passado por algum conflito não assimilado nesta fase de desenvolvimento e registrou a mordida como forma de sublimação do que lhe faltou. Pode ter sido sua relação com o seio da sua mãe, pode ter sido uma surra porque ele mordeu a caneta preferida do pai... E muitas hipóteses. Mas o drama do Suárez começou lá atrás, e precisamos aqui de uma Copa para nos fazer entender que ele precisa de ajuda. Ele reage com uma “fase oral tardia” ao stress.

Não confundamos este problema com a “Odaxelagnia” – que é a vontade de morder carinhosamente as pessoas. O que o Suárez tem se chama dacnomania. Não sei se a Fifa vai levar isso em consideração. Eu, sabendo disso tudo daria a ele uma punição educativa – condicionaria a continuidade de atleta dele a um acompanhamento psicológico visando resolver o conflito não resolvido de sua fase oral. Tirá-lo de um ou mais jogos não vai resolver nada. Pois não vai reeducar o que aconteceu lá atrás. Espero ter ajudado a entender algo importante. A informação nos liberta e faz nos compreender neste mundo. O julgamento vazio nos atrasa e faz de tudo um inferno sem fim.

FONTE: Prime Offer  / Jordan Campos é terapeuta transpessoal sistêmico, clínico, escritor, palestrante, conferencista internacional e músico.

LEIA TAMBÉM: 

A mordida de Luis Suárez tem explicação?

domingo, 13 de abril de 2014

Depressão, álcool e vida íntima invadida. Veja os dramas de Ian Thorpe









A luta contra uma forte infecção que pode causar a perda dos movimentos do braço esquerdo está longe de ser a única batalha na carreira do polêmico pentacampeão olímpico Ian Torphe. A vida do australiano tem batalhas contra depressão, alcoolismo e até de questionamentos sobre sua sexualidade.

Há cerca de dois meses, o atleta de 31 anos deu entrada em uma clínica privada para  tratar de depressão depois de ser encontrado pela polícia local em estado de atordoamento pelo uso excessivo de medicamentos.
Os problemas psicológicos também foram os responsáveis pela aposentadoria precoce que teve em 2006, aos 24 anos, quando decidiu parar alegar estar desmotivado. Depois, veio à tona que a interrupção foi pelo uso excessivo de álcool e forte depressão.

Há pouco mais de um ano, ele lançou uma biografia em que revelava os problemas psicológicos que teve e que aventou a possibilidade de fazer algo pior. "Até pensei em lugares concretos ou um modo específico de cometer suicídio, mas sempre recuava ao perceber que era ridículo... Poderia ter cometido suicídio? Olhando para trás, acredito que não, mas existiram dias na minha vida que mesmo hoje me fazem tremer", escreveu.

Diz que usava álcool para poder ter boas noites de sono, até que isso virou um circulo vicioso. "Era a única maneira de poder dormir. Usava a bebida sozinho em meio à desgraça", disse na obra.

O nadador sempre foi alvo da imprensa de seu país quanto a questionamentos sobre sua sexualidade, o que sempre gerou desgaste no campeão, que visivelmente não gostava desse tipo de pergunta sobre sua vida particular.
Em 2009, o jornal "The Daily Telegraph" chegou a insinuar que ele tinha um caso com o desconhecido nadador brasileiro Daniel Mendes, ao relatar que os dois viajaram juntos de férias para o Brasil e que chegaram a morar na mesma casa, na Austrália, por três anos. O australiano teve que falar na época sobre isso e cita em sua biografia a chatice que era ter esse tipo de questão à sua sombra.

"Em várias ocasiões respondi questões sobre minha sexualidade com a mídia abertamente e honestamente... Desde então, minha situação não mudou", falou Thorpe, em uma das declarações sobre o assunto. "O que acho mais doloroso é ver as pessoas questionando minha integridade, e que isto seria algo com o qual me sentiria embaraçado ou quisesse esconder. Não quero ofender alguém ficando nervoso ou frustrado com isso."

Os ex-nadadores brasileiros Gustavo Borges e Fernando Scherer, o Xuxa, foram contemporâneos de Thorpe e chegaram a ter contato com o australiano em competições internacionais. Gustavo diz que nunca percebeu no atleta qualquer sinal de que pudesse ser um jovem infeliz ou com problemas. O que transparecia era seu espírito de competividade.

"Não, nada, nunca percebi. Ele parecia ser um cara determinado, que era pelos resultados e a maneira de competir. Não tinha nada que identificasse um perfil diferente não, ele parecia até ser um cara bem equilibrado,  com muita determinação, não lembro nada que tivesse chamado atenção, a não ser pela determinação dele de ganhar", falou Borges.

"Ele foi um cara que parou muito cedo e ganhou muita coisa jovem. É difícil falar, mas pode ser que ele tenha tido uma mistura de sentimentos muito jovem. Ele voltou tarde demais, era extremamente talentoso. Uma pena", continuou.

Xuxa diz que a maior lembrança que tem no contato é de que Thorpe era um cara extremamente humilde. E diz que a primeira lembrança que tem dos momentos que pôde presenciar era de sua disposição em tratar muito bem a todos. "Ele era um moleque atencioso e carismático. Lembro que ele atendia as crianças e fazia tudo de maneira profissional. Já vi muito campeão olímpico negar foto até pra atleta em Olimpíada, mas ele ficava lá atendendo as crianças. Ele sempre tratava muito bem todo mundo", falou.

"Não posso comentar sobre a vida pessoal dele, porque não conheço.  Mas quando se fala em medicamento e álcool é uma mistura que não dá uma combinação muito boa. Ele era recordista mundial com 15 anos e depois teve uma parada brusca. Imagino que possa ter perdido o chão. Não é fácil para um atleta parar de representar seu país, ouvir hino e fazer a sua nação feliz."
Ian vinha tentando retomar a carreira desde 2011, mas nunca conseguiu nenhum resultado expressivo. A TV australiana Network Seven divulgou na terça-feira que o cinco vezes campeão olímpico está internado na UTI de um hospital em Sydney, na Austrália, com uma infecção forte que pode causar a perda dos movimentos do braço esquerdo. Em entrevista à emissora britânica BBC, um porta-voz do nadador confirmou a hospitalização do australiano, mas negou que ele estivesse em cuidados intensivos.

A agência Reuters publicou entrevista com James Erskine, empresário de Thorpe, que afirmou que o caso é de risco à vida do australiano, mas considerou que este pode ser o fim da carreira do atleta. "De um ponto de vista competitivo, eu acho que ele não vai nadar competitivamente de novo", afirmou.

Falta de privacidade pode causar distúrbio
A psicóloga esportiva Maira Ruas ressaltou que não há como fazer qualquer avaliação do caso sem acompanha-lo de perto, mas viu algumas situações que podem ter sido determinantes para a depressão do ex-campeão olímpico.

A profissional entende que apenas o fato de ter ganhado tudo muito cedo pode não ter sido o diferencial, mas sim a exposição de sua vinda íntima e a sensação de ter que prestar contas à sociedade pelos padrões impostos.
"Era uma pessoa muito jovem, que estava em formação de sua fase adulta e tinha uma imensa responsabilidade na vida pessoal e não tinha privacidade na vida pessoal. Ela é julgada o tempo todo, seja para ganhar um título ou porque sai junto com fulano ou ciclano; então a questão humana dele não existe. Ele tem que produzir medalhas e responder questões para a sociedade, como a opção sexual, sela ela qual for. E isso pode render um esvaziamento interno e ser o fator desencadeador de depressão e alcoolismo", explicou.

"A depressão pode ter origem fisiológica ou social, com situações externas interferindo. O sucesso de forma prematura pode ter ajudado a desenvolver algumas características nele."

FONTE: José Ricardo Leite / Do UOL, em São Paulo

sábado, 12 de abril de 2014

Pesquisa revela alto índice de adoecimento mental entre docentes da UFPA








O Ex-Coordenador de Saúde do Trabalhador da UFPA, Médico, Professor e pesquisador, Jadir Campos, mestre na área médica e em educação e doutorando em Saúde do Trabalhador na Universidad Internacional Tres Fronteras, de Buenos Aires (Argentina), conversou com a Adufpa sobre a correlação entre as políticas para a educação superior pública no Brasil e o adoecimento docente. Em sua recente pesquisa de mestrado, intitulada “Trabalho Docente e Saúde: Tensões da Educação Superior”, que teve como objetivo discutir como as tensões das políticas para a Educação Superior pública estariam levando ao sofrimento e, em consequência, ao adoecimento docente, foram obtidos dados que sugerem que o fomento ao produtivismo e à competitividade, estimulados, sobretudo, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), estão gerando adoecimento mental entre professores da UFPA. De acordo com a pesquisa, uma taxa de 14,13% dos pedidos de afastamento do trabalho de docentes da universidade, entre 2006 e 2010, esteve relacionado a problemas com a saúde mental.

Adufpa: De acordo com sua pesquisa, qual o quadro da UFPA quanto à saúde dos docentes?

Jadir: O quadro da UFPA praticamente se repete em todas as IFES brasileiras, porque isto é uma característica da própria política que o Ministério da Educação (MEC) vem adotando com relação ao trabalho docente. Esta pesquisa, iniciada através do mestrado em Educação, enfoca as políticas que foram criadas pelo governo federal para a educação superior e como elas, de alguma forma, comprometem o trabalho docente, que é intensificado e, na maioria das vezes, não é percebido pelo professor. Essa precarização do trabalho leva a uma situação de sofrimento, inicialmente, e se aquela pessoa que está passando por este sofrimento não tiver condições de superá-lo irá adoecer, pois o docente está submetido a uma série de exigências por conta da política de educação do MEC.

O adoecimento que estamos discutindo aqui é o mental, porém existem outras doenças inerentes à docência: Lesão por Esforço Repetitivo (LER) / Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT), lombalgia, problemas de pregas vocais com alterações da voz (disfonia), entre outros. Porém, neste trabalho, estou me referindo a um problema muito sério, que é o problema da saúde mental. Quando passei pela coordenadoria de saúde do trabalhador da UFPA, tivemos o trabalho de fazer esse levantamento, porque até então não existia absolutamente nada em termos de adoecimento do docente da UFPA, o que seria desvelado se o Projeto do Perfil Epidemiológico dos servidores da UFPA, elaborado por nós, tivesse sido implantado. Nós, modo geral, servidores da UFPA, não sabemos do que adoecemos nem do que morremos. Despertou-nos e inquietou-nos a quantidade de professores que nos procuravam com problemas de saúde mental. E, fizemos um levantamento de 2006 a 2010, levando em consideração aquele professor que nos procurava para se afastar, de alguma forma, em consequência de adoecimento mental. A surpresa – e eu não diria tão surpresa assim – foi a alta incidência de doenças mentais em professores da UFPA. O percentual de professores que pediram afastamento das atividades acadêmicas devido ao quadro de adoecimento mental, neste período, foi de 14,13%. Isto é alto, pois se compararmos com a doença que mais afasta os trabalhadores modo geral, na sociedade, que é a LER-DORT que é da ordem de 7,2%, chegamos a conclusão que no caso da UFPA o adoecimento mental afasta quase que o dobro do percentual que a LER – DORT afasta na sociedade em geral. Ou seja, o índice é muito alto e, por isso, preocupante.

Adufpa: Quais as possíveis causas do adoecimento docente?

Jadir: O que realmente está ocorrendo com o docente é que ele não está percebendo que está sendo “usado” e, digamos assim, imiscuído em um contexto político em que pela falta ou pela exiguidade de recursos financeiros - já que a universidade não arca com as necessidades materiais e de recursos para o desenvolvimento de pesquisas -, os dois órgãos mais importantes de fomento à pesquisa, a Capes e o CNPq, fazem uma triagem produtivista, tornando os docentes bodes expiatórios de um esquema perverso ao professor. Deste modo, o professor vai atrás deste fomento para conseguir recursos para sua pesquisa, para ter acesso às tecnologias, bolsistas etc. O professor que consegue isto acredita que o conseguiu por ser “gênio”, porém, o que não se percebe é que isso o coloca refém do produtivismo, da competição, e impõe a exigência de um grande número de publicações em revistas com qualis elevados. Contudo, eles acreditam que essa realidade faz parte do contexto da universidade e, esta situação é pior na Pós-Graduação, não percebem sua lógica real. Ele acha que “é gênio” por ter conseguido garantir todas suas publicações e aprovação de seus projetos, não percebe que isto na verdade é uma banalização, ou seja, em função dos exíguos recursos disponibilizados para a universidade, é feito uma triagem, e essa triagem é feita assim, dando maior possibilidade de pesquisa àquela pessoa que tem o que chamamos de ‘produtivismo consciente’, que publica muito, que tem seus artigos aprovados em periódicos qualis A, B. Os órgãos de fomento à pesquisa aproveitam-se disto e dizem que os professores tem plena consciência, mas não é bem assim. Quando você tem, de alguma forma, uma retribuição simbólica e remuneratória por algo que você faz, por exemplo: você desenvolve um trabalho, esse trabalho é aquilatado para que você receba um prêmio ou conquiste destaque, essa possibilidade de ter seu trabalho avaliado como o melhor, naturalmente gera no organismo substâncias que dão sensação de bem estar, neurotransmissores que provocam sensação de bem estar e nos “agiganta”, que nós chamamos de endorfinas. A pessoa que se vê envolvida neste contexto, com este “estímulo” à pesquisa e disponibilidade de recursos por ser “gênio”, acredita realmente que isto é ótimo, maravilhoso, a ponto de intensificar ainda mais seu trabalho. No meio deste bojo até o seu lazer é tomado. O professor se vê tão envolvido neste processo, que faz isso porque acredita que esta é a única e melhor forma de se destacar na carreira e conseguir recursos para pesquisa, expressando sua capacidade e adquirindo um status diferenciado em sua categoria. Com o tempo, a exaustão emocional e o cansaço, entre outras contradições, vão fazendo com que este docente apresente sofrimento e se não possuir estrutura emocional adequada adoece sem se perceber. Esse que é o maior problema. O docente não tem consciência do seu processo de adoecimento. É preciso criar políticas que façam o professor perceber que está dentro de uma rede perversa e que isso poderá levá-lo a adquirir doenças psicossomáticas, depressão, Síndrome de burnout entre outras.

Não se iludam, todas essas políticas criadas pelo MEC tem um viés de controle. Por exemplo, quando se impõe uma avaliação quatitativista aos docentes, com uma série de requisitos e pontuações que devem ser preenchidas, isso faz parte de uma política de controle. A Lei de Inovação Tecnológica é outra questão perigosíssima, pois ela incentiva o professor a ser além de produtivista, empreendedor. Essa Lei direciona a pesquisa aos interesses mercantis, sujeitando os docentes a pesquisarem de acordo com o retorno que os resultados da pesquisa darão ao mercado, às empresas e/ou indústria; além disso, outras áreas que não estão ligadas aos interesses industriais e de mercado, são penalizadas, dificilmente tem seus projetos aprovados porque não são “rentáveis”. Aquilo que existia nas universidades em termos da autonomia não existe mais. Tornou-se o que nós chamamos de ‘autonomia consentida’. Você vai até onde a instituição acha que é permitido ir. O próprio docente está comprometido em sua autonomia intelectual, ou seja, ele não tem mais a liberdade de pesquisar o que ele julga e percebe ser importante para a sociedade e para a universidade. Ele tem que pesquisar aquilo que é considerado valido e que dará retorno, no sentido de recompensar monetariamente. Ele acredita que está sendo recompensado intelectualmente, mas infelizmente não está.

Adufpa: Quais são as características apresentadas pelos docentes quando atacados em sua saúde mental?

Jadir: Existem várias doenças mentais, porém duas chamam mais a nossa atenção no que tange a saúde do professor, a Síndrome de burnout e a depressão. A Síndrome de burnout, que é intimamente relacionada ao exercício docente e a depressão, que hoje é a segunda causa que mais afasta do trabalho e, em 2020, será a doença que mais afastará do trabalho, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Hoje, a depressão só perde para LER / DORT, primeira doença que mais afasta trabalhadores de suas atividades.

A pessoa com depressão é aquela pessoa que constantemente se afasta, não tem envolvimento com os colegas, com os pares, procura se isolar. É aquela pessoa que está comumente irritada e não deixa com que ninguém se aproxime ou aborde-a. O cansaço na pessoa que está deprimida é muito frequente, a pessoa sempre relata: “estou cansada”, “estou exausta”, “não consigo produzir o que eu acho que deveria produzir”. Mas, como tem que competir, ela busca de qualquer forma produzir. O docente com quadro depressivo apresenta, constantemente, dor de cabeça e pode apresentar perda do apetite tanto nutricional como sexual.

A Síndrome de burnout tem características especiais. São três as principais características desta Síndrome: a exaustão emocional; a falta de envolvimento com o trabalho, a pessoa perde o interesse e já não tem mais o mesmo entusiasmo de antes; e, finalizando, a despersonalização. A despersonalização, eu considero como médico um termo muito forte, isto é para a escola inglesa, nós, da escola brasileira, chamamos de desumanização. A desumanização se expressa naquele professor que é questionado pelo aluno e responde com pedras na mão e não deixa ninguém sequer intervir, adotando posturas autoritárias: “Aqui o professor sou eu, fique calado”, ou adota posturas similares quando abordado pelas demais pessoas. 

Existem muito mais problemas que comprometem a saúde mental, porém essas duas são as mais expressivas no contexto do adoecimento do docente em função de todas essas mudanças impostas ao mundo do trabalho do professor universitário.

Adufpa: Como ex-coordenador de saúde do trabalhador da UFPA, qual a sua avaliação sobre o papel institucional da universidade para combater esse quadro de elevado adoecimento mental do docente?

Jadir: Quando eu estava na coordenadoria nós fizemos várias discussões sobre o problema do adoecimento de docentes na UFPA. Essas discussões envolveram a Adufpa e o Sindicato dos Técnicos da UFPA (Sindtifes-PA). É lamentável, mas não há realmente um envolvimento Institucional da Administração Superior neste sentido. Não há uma política preocupada com isso. Nós tivemos algumas vezes oportunidade de levar ao atual reitor essas taxas observadas no período de 2006 a 2010. Elaboramos um projeto, o qual está na Pro-Reitoria de Gestão de Desenvolvimento de Pessoal (Progep), que funcionaria como uma intervenção sobre a qualidade de vida do trabalho dos servidores da UFPA. Infelizmente, isso não chegou a ser implantado. Não sei como anda esse projeto atualmente. O projeto foi criado, à época, por mim e pela professora Elen Carvalho, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), e está disponível como parte do acervo da Progep. É lamentável que a UFPA não dê a devida importância a um tema como este, pois se preocupar com a qualidade do trabalho deveria ser um hábito Institucional.


Christophe Dejours, que é um autor que pesquisa sobre a questão do sofrimento e adoecimento no trabalho, chama esse processo, vivenciado pelos docentes, de psicodinâmica do trabalho, ou seja, você está envolvido no trabalho, mas não tem consciência do processo e organização dele. O trabalho está posto e você vai realizar. Mas nem sempre consegue. Na maioria das vezes você se aproxima do que lhe foi pedido e cria mecanismos para que não sofra por aquilo. O problema é que hoje, as avaliações estão ai, tudo é avaliado. Não que as avaliações não sejam pertinentes, mas depende do tipo de avaliação, de como essa avaliação é conduzida. Isso é que deve ser discutido. Mas, infelizmente, a UFPA não tem dado importância a este problema, pois eu desconheço, até então, essa preocupação institucional.

FONTE: ADUFPA - SEÇÃO SINDICAL - ANDES SN

segunda-feira, 31 de março de 2014

Chico Anysio conta como venceu a depressão










Psiquiatra e sobrinha do humorista lembra que o tio tratava a doença com naturalidade. “Não escondia isso de ninguém”.


Durante muitos anos, Chico Anysio mostrou ter várias faces. Mas uma, ele só revelou pouco antes de morrer.


“Eu tenho um psiquiatra há 24 anos. E se não fossem os remédios que a psiquiatria dá. Se não fosse isso, eu não teria conseguido fazer 20% do que eu fiz”.

Chico Anysio sofria de depressão.
“Eu entendi que era depressão e eu pude pagar os remédios. E eu pude pagar ao psiquiatra, então eu venci. Porque ela é vencível”, conta o humorista.
O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria foi quem teve a ideia de entrevistar Chico Anysio. Ele queria que as palavras do humorista fossem usadas em um congresso contra o preconceito a doenças mentais.
“A depressão atinge de 20 a 25% da população. E significa que 20 a 25% da população, tem, teve ou terá um quadro de depressão ao longo da vida. Portanto pode atingir a qualquer pessoa, em qualquer idade”, explica Antonio Geraldo da Silva, presidente da ABP.
A Joseane sofreu calada por quase um ano os efeitos da depressão e do preconceito. “A família não entende. Acha que é frescura. Que é falta de vergonha na cara. Que pobre não pode ter depressão”, diz Joseane Gomes, auxiliar de serviços gerais.
“Só que um dia eu fui para o trabalho e lá eu tive a crise que foi muito forte. Eu chorava muito. Eu sentia uma angustia muito grande. Uma coisa muito forte. Que eu não tinha vontade de nada. De fazer nada. Eu só tinha vontade de morrer. Pra mim, se eu morresse acabava os problemas”, revela Joseane.
Só então a Joseane foi buscar ajuda. E encontrou em uma unidade especializada em saúde mental, da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. “Os pacientes com depressão que chegam aqui. Tem um perfil de uma clientela mais grave. Os pacientes chegam com depressão e com alguns sintomas a mais. Com ideias suicidas, sintomas psicóticos. Estados avançados de inapetência de não querer comer, de se cuidar. Parar de tomar banho. Auto cuidado já mais deteriorado”, explica Christiane Andreolo, psiquiatra.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, aproximadamente dois terços das pessoas com depressão não fazem tratamento. Entre os pacientes que procuram o médico, apenas 50% são diagnosticados corretamente.
“É a mesma coisa que você falar pra quem usa óculos. Tira o óculos, enxergue, esforce pra enxergar, você vai conseguir. Claro que não vai conseguir. A depressão também você não vai conseguir sair dela”, afirma Antonio Geraldo da Silva, presidente da ABP.
“Você se conscientizar que você está com este problema não é fácil. Você acha que os problemas que existem na sua vida que te fazem ficar assim, mas não é, entendeu? Você quando tem depressão, você reage de maneira errada a problemas que todo mundo tem”, explica Paulo Malta Santos, funcionário público.
O Paulo só começou o tratamento depois de muita insistência da família. “As pessoas tendem a confundir com como se fosse um tipo de loucura. Muita gente têm até vergonha de procurar ajuda. Mas não é loucura. É um problema psíquico de fundo emocional que hoje em dia muita gente tem”, diz Paulo.
“O difícil é as pessoas entenderem como é que pessoas aparentemente normais podem sofrer de depressão. Aí, tem um outro tipo de preconceito que achar que depressão inutiliza as pessoas e elas são malucas”, explica a psiquiatra Ana Alice.
Ana Alice é psiquiatra e sobrinha de Chico Anysio. E lembra que o tio tratava a doença com naturalidade. “Meu tio não escondia isso de ninguém. Nunca escondeu. Falou pra família inteira. Conversava comigo. Muito natural”, revela Ana Alice.
“Ontem eu tava conversando com uma paciente minha sobre ‘por que é que eu tenho depressão? Será que foi porque eu não consegui lidar com tal situação. Eu sou frágil por causa disso?’ Depressão é uma doença genética. Hereditária. Mas ninguém fica deprimido porque quer”, explica a sobrinha de Chico Anysio.
Rico sabe sobre o que Ana Alice está dizendo. Ele é primo dela e filho de Chico Anysio. “Eu já deprimi quando minha mãe morreu. Quando ele morreu eu fiquei também deprimido. Não tive que tomar remédio nenhum. Eu faço terapia e não tive que me medicar. Mas certamente eu fiquei deprimido”, conta Rico.
Ao falar abertamente sobre o problema, o filho parece ter entendido o último conselho do pai.
“Quanto mais pessoas me ouvirem falar sobre a depressão, mais pessoas vão deixar de ter vergonha de ser deprimido”, disse Chico Anysio.
FONTE: globo.com/fantástico

Veja Vídeo Com  a Entrevista: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/03/em-depoimento-inedito-chico-anysio-conta-como-venceu-depressao.html